Maria Ieda da Silva Medeiros, mais conhecida como “Dadi Calungueira”, nasceu no dia 04/09/38. Natural de Jaçanã, mas mudou-se para Carnaúba dos Dantas ainda adolescente. Ao observar os bonecos feitos de papel “machet” que aparecia na televisão ela ficou inspirada e aprendeu a fazer os bonecos e o cenário sem a ajuda de ninguém. Inicialmente a iniciativa era para incentivar as crianças da pastoral perto de onde ela morava, mas ao brincar com os bonecos ela começou a gostar deles. Já deu oficinas em outras cidades, como Natal. O seu espetáculo era mais na base do improviso, mas sempre tendo um tema principal para cada apresentação. Apresentou em várias cidades, como Natal, onde foi duas vezes. “Se eu tivesse minha vista e saúde, eu vivia no meio do mundo com um sanfoneiro e uma mala de bonecos”. O João Redondo (Bonecos populares do Rio Grande do Norte) era mais um divertimento para ela, seu sustento vinha da sua aposentadoria. Ela publicou um livro todo em poesia partindo da improvisação, intitulado “Flor de Mucambo”. Dadi fazia a comercialização de seus bonecos, tanto que no Museu Câmara Cascudo existe uma sala com suas obras. Em 2022 ela foi homenageada com o documentário “Dona Dadi, a calungueira do sertão” realizado pela Trapiá Filmes de Caicó/RN. Faleceu em 26/01/2021 em Carnaúba dos Dantas/RN.
In Memoriam
Dimas Ferreira era natural de Acari. Ele foi um escultor e trabalhava com pedras e granitos. Ele já tinha uma afinidade com o trabalho na pedra devido ter atuado como pedreiro por muitos anos, foi desse trabalho que ele tirou a ideia de esculpir na pedra. Expôs em vários lugares do RN (Natal, Acari, Currais Novos), e em outros lugares do Brasil. As suas esculturas possuem vários tamanhos, podendo atingir de um metro e oitenta a dez centímetros. Seu local de trabalho era na mata, onde achava a pedra favorável e o local adequado, assim ele começou seu trabalho. Nelas ele abordava figuras humanas, tanto sacras quanto laicas, e de animais. Ele comercializava suas obras, mas geralmente fazia por encomenda. Colocava a sua casa como uma espécie de galeria, pois algumas de suas obras eram expostas lá. Seu sustento financeiro vinha do seu trabalho como escultor, sendo um dos poucos artistas dessa região que se mantinha através de sua arte. Ele faleceu em 2006 em Acari/RN.
João Antônio de Medeiros Neto nasceu no dia 19/08/73, em Currais Novos. Dentre as suas habilidades para vários tipos de produção artística, João prefere a pintura, onde abordar temas com uma temática mais social, que focam num questionamento da condição humana, algo como crítica de valores, crítica com relação as questões sociais. Desde pequeno teve aptidão para o desenho, mas quando foi estudar em Natal, na ETFERN, atualmente o IFRN, existia um ateliê de artes que funcionava como uma atividade extracurricular. Nesse período teve um contato mais direto com a arte da pintura. Em relação ao desenho, desenvolveu ainda mais suas habilidades a partir do contato com um grupo de quadrinistas, o GRUPEC, de Natal. Na capital ele também realizou o curso superior em Educação Artística, depois disso voltou para a sua cidade onde realizou projetos para lecionar artes, é importante mencionar que grande parte dos artistas de Currais Novos já foram alunos de João Antônio. Construi com seus recursos o importante espaço AVOANTE que recebeu diversas atividades artísticas da cidade e de grupos da região. João Antônio faleceu em 06 de setembro de 2022 em Currais Novos.
Luzia de Araújo Dantas nasceu na cidade de São Vicente/RN em 1937, mas morava há muitos anos e trabalhava em Currais Novos. Em sua produção era predominante a presença das imagens dos santos, de onde vem o título de “santeira”, que a artista não renegava. Porém, Luzia Dantas tinha também obras com outros enfoques como retirantes e cactos, personagens que estão relacionados com uma temática regional. Luzia Dantas esculpia as suas obras em Umburana, uma madeira que segundo a própria era mais mole do que as outras, por isso é a mais utilizada entre os artistas da região. Outro detalhe característico de suas esculturas é que elas não levavam camadas de tinta, eram vendidas com a cor natural da madeira. Faleceu em 12/02/2022 em Currais Novos/RN.
Maria Antônia do Santíssimo, conhecida nas artes potiguares como Maria do Santíssimo, nasceu em São Vicente, na região do Seridó, interior do Rio Grande do Norte, em 21 de dezembro de 1890 e faleceu no ano de 1974. A artista é considerada a maior representante da pintura primitiva do Rio Grande do Norte, uma vez que teve maior visibilidade no estado e em todo o território nacional. Começou a pintar aos nove anos de idade, como autodidata, contudo deixou a pintura para dedicar-se as atividades do lar. Em 1962, o artista Iaponi Araújo da cidade de São Vicente, que já era integrado ao universo cultural artístico do estado e do país, descobriu o trabalho da senhora Maria do Santíssimo como uma autentica artista primitiva, que pintava de maneira genuína, ao usar palito de coqueiro como pincel, esmagado em suas extremidades e anilina sobre papel pautado. Logo, suas pinturas aguadas com temas que constituem o imaginário simbólico do sertão, a partir de sua vivência cotidiana, iriam representar e promover a pintura primitiva no Estado do Rio Grande do Norte. A pintora retratava sobretudo, o seu “terreiro sertanejo”, os animais, a flora e a fauna dessa região, que cultivava cotidianamente em seu lar, como alfinetes, cravos e roseiras, além de igrejinhas, com pouca representação da figura humana. Segundo Iaperi Araújo (2014)[1], a artista participou de diversas exposições no Brasil e no mundo, com textos importantes na crítica de arte nacional, como Flavio Aquino, Roberto Pontual, Clarival do Prado Vasconcelos e Wamyr Ayala. A artista representou o Rio Grande do Norte no projeto Arco Iris da FUNARTE, no Rio de Janeiro. O crítico Roberto Pontual integrou-a aos 50 artistas convidados para a exposição comemorativa dos 50 anos da Semana de Arte Moderna na Collectio, em São Paulo, 1972. Fez parte de uma exposição coletiva no Salão de Verão promovido pelo Jornal do Brasil no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Participou da Trienal de Pintura Primitiva de Bratislava, na Tchecoslováquia, como representante oficial do Brasil. Também se destaca uma importante exposição que ocorreu na Galeria Domus em 1966 junto com seu Neto Manxa que já se destacava no estado como escultor de entalhes de madeira, resina, fibra e concreto. Sua pintura livre de academicismo, construiu pictoricamente uma poética do sertão, numa representação simples e sincera do seu viver.
Texto gentilmente cedido por Ilka Pimenta (Mestre em História – UFRN e Produtora cultural)
[1] ARAÚJO, Iaperi. Maria do Santíssimo: uma pintura ingênua. Natal (RN): Fundação José Augusto, 98p. (Coleção Cultura Potiguar), 2014.
Muirakytan Kennedy de Macedo, nasceu em 09/07/1964 na cidade de Caicó/RN e faleceu em 07/07/2021 em Natal/RN. Aposentou-se como professor da UFRN, campus Caicó, onde atuou nos cursos de graduação em História e no Mestrado em História no campus central (Natal/RN). Sempre se interessou por tudo de arte, especialmente a palavra poética, com apreço pelos clássicos e também pela produção popular, como cordéis. Entendia que modelar bonsais era uma forma de arte. Depois que se aposentou, por causa de um câncer de rim, retomou com mais intensidade o interesse por desenho, pintura, xilogravura. Pintou quadros, oratórios, tamboretes (experimentando também esculpir relevos nas peças), vasos de plantas. Em 2020, durante a pandemia, começou a pintar nas folhas de rosto dos livros que lia naquele ano e foram mais de 130 livros. Em alguns, pintava também certas páginas internas. Sempre foi autodidata, mas depois de alguns quadros produzidos, fez uns dois mini-cursos, mas não permaneceu muito tempo. A palavra poética foi sua primeira forma de expressão artística. Nas artes visuais não seguia um padrão estético, embora tenha se interessado em estudar todos os estilos, talvez pelo fato de ter sido professor de História da Arte. Também experimentava diversas técnicas. Tinha curiosidade em desenhar usando o pontilhismo, experimentava técnicas com grafite, carvão vegetal, acrílico, pastel, nanquim, óleo, aquarela, sempre utilizando uma diversidade de materiais específicos para esses experimentos. Primeiro ele estudou elementos do desenho mais realista, com o objetivo de dominar a técnica de representação, dentro dos padrões simétricos da composição, do traço, da perspectiva, das proporções e do jogo de luz, sombra e paleta de cores. Após a aprendizagem desses elementos, partiu para uma criação explorando a distorção das proporções. Nas últimas criações, voltou-se para a intervenção nas obras que lia. Isso tanto era um respeito pelo objeto livro que tanto amava, especialmente os de literatura, seu último refúgio, mas também um gesto de dessacralização da obra. A intervenção no livro era sempre após concluir a leitura. Só então esboçava, pintava, criava alguns versos e colocava tudo no seu instagram. Os temas eram variados: animais, pessoas, plantas, objetos do cotidiano. O que permanecia, na maioria das vezes, era a distorção da figura, o desmonte, o inusitado, como se assim, ele pudesse provocar o expectador a ver para além da realidade aparente. Alguns exemplos: velocípede desconjuntado, bicicletas com três aros e vários selins, bebês gorduchos com panelas na cabeça e um rato quebrando a atmosfera infantil, animais como peixes e nomes que não existem, criados pela pintura e por verbetes que ele inventava poeticamente para descrevê-los. Nas pinturas das folhas de rosto dos livros, as figuras podem ter três cabeças, um pescoço maior do que o resto do corpo, humano e máquina num mesmo corpo. Há em todas elas, além de uma espécie de estética do absurdo, a presença de uma antena. Talvez numa citação não verbal de Ezra Pound, o pintor estivesse reafirmando que as artes são as antenas da raça humana. Não comercializava nada. Nem mesmo a cota de livros que recebia das editoras que publicavam suas obras. Doava, além dos livros dessa cota, também grande parte dos livros que comprava. Presenteou muitos amigos com desenhos e pinturas. No fim, encaminhou a vida para um princípio cristão de compartilhamento, seja em contribuições a instituições de cuidado de idosos ou de pessoas doentes, seja se desapegando dos livros que amava para que outros pudessem ter acesso a eles. Uma vez participou de uma exposição no Centro de Ensino Superior do Seridó (CERES-UFRN). Não se interessava muito pelo reconhecimento, criar era mais importante, independia da avaliação externa. E nisso se diferenciava da produção acadêmica, esta ele sempre achava que precisava da avaliação dos pares. Muirakytan reunia o espírito de pesquisador que atravessa a alma do cientista e do artista. Sem confundir os métodos e rigores de cada área do conhecimento, toda sua criação era resultado do olhar investigativo. Um olhar, por assim dizer, estrábico, porque buscava as referências das suas origens, mas sem fechar-se nelas. Valorizava a intuição, a sensibilidade, os saberes populares, sem abandonar o conhecimento dos livros, do universo acadêmico. Era historiador e amava o Sertão, o Seridó, seu grande interesse de estudo. Observava e compreendia as contradições humanas, sempre atravessado e incitado pela arte. O espírito investigativo forjou o historiador, o professor, o artista, mas sempre associado a uma generosidade que o fazia se colocar a disposição de quem se aproximava dele com o desejo de crescer. Gostava de ensinar, mas também de aprender com o outro.
Texto gentilmente cedido por Ana Santana.
A escultora Raimunda “Louca”, natural de Caicó, iniciou a sua manipulação na cerâmica ainda criança, pois sua mãe já trabalhava com a cerâmica, produzindo louça de barro. Raimunda fazia umas “combuquinhas” apenas para sua diversão. Com uns dez anos já produzia um material distinto do de sua mãe. Mas essa não era a sustentação financeira da família, eles sobreviviam da colheita e da venda desses produtos. Na medida em que sua obra evoluía e ia conquistando os clientes ela passou a ensinar seu ofício, ensinou em várias regiões do Rio Grande do Norte. Tornou-se famosa por moldar utensílios domésticos em cerâmica, e por esculturas de cerâmica que tinham os mais variados tamanhos. Suas obras foram expostas em várias partes do Brasil. Faleceu em 14/05/2018 em Caicó/RN.
José Avelino Júnior (Zé Avelino) nasceu em Caicó em 03/10/1943. Saiu da escola de artes de Recife por considerar muito acadêmica. Sua fonte de inspiração foi o popular e a luz. Sua técnica era apurada na busca por tonalidades. Os artistas que conheceram suas obras e seu processo de criação o chamavam de “O mago das cores”. Faleceu em 14/09/2021 em Caicó.